Conferência com Eliana Alves (Caio)

Como a indústria brasileira de ônibus está se preparando para atender à agenda global da descarbonização e eletrificação da mobilidade? Em que medida esta transição representa uma ameaça ou oportunidade para nossa indústria? Nesta conversa a Eliana Alves (Caio) compartilha brevemente conosco algumas de suas impressões sobre esses tópicos. Confira!

O QUE PENSA O ESPECIALISTA

André Fortes Chaves

7/29/20244 min ler

A Caio, fundada em 1945 na cidade de São Paulo, é uma empresa brasileira com destacada tradição na fabricação de ônibus, tendo produzido no período de 2001 a 2023 cerca de 180 mil carrocerias, preponderantemente voltadas para o segmento urbano. Diante dessa capacidade produtiva expressiva, como a Caio vem se preparando para aderir à agenda global da transição energética e descarbonização?

A Caio segue liderando as vendas no segmento de urbanos, como pioneira no segmento de eletrificação tem contribuído para a redução de emissões de gases poluentes.
A empresa tem criado modelos de negócios que fortalecem o segmento de eletrificação, criando parcerias para desenvolvimento de novos produtos e contribuindo para uma transição eficiente.
Os colaboradores estão empenhados e dedicados em executar melhorias contínuas no processo produtivo dos elétricos.

Sabemos que muitos países, inclusive da América Latina, já contam com um plano ou estratégia nacional para eletrificação de suas frotas. No seu entendimento, isso pode representar mais uma oportunidade ou uma ameaça para a indústria brasileira, como perda de mercado e competitividade? Quais seriam os principais desafios para a Caio quando olhamos para esta transição?

No primeiro momento como uma ameaça, o mercado asiático fortaleceu a indústria automotiva conferindo credibilidade aos produtos, investiram em inovação e novas tecnologias para obtenção de retorno a longo prazo. No cenário atual, possuem maturidade tecnológica em toda cadeia produtiva, e tem produção em escala, fazendo com que o nosso produto perca a competitividade.
O ambiente é favorável ao desenvolvimento do setor de mobilidade elétrica, nesse sentido, avalio como oportunidade.
Com a aprovação do Mover (PL) e a divulgação do novo PAC seleções, o governo sinalizou que apoiará a transição para Ônibus Elétricos e projetos alinhados aos objetivos da política de Neoindustrialização (NIB).
Nesse sentido, gerou confiança para a indústria inovar e investir em modelos de negócios mais disruptivos.
A médio prazo, sairão na frente as empresas que estrategicamente aproveitarem a oportunidade e investirem em inovação, pesquisa e desenvolvimento, orientados para os pilares de sustentabilidade.
O desafio é redução de custos de produção, alinhado a entrega de um produto com mais tecnologia e eficiência energética.

Qual o nível de maturidade do parque industrial brasileiro para produção de ônibus elétricos? Temos capacidade de suprir a demanda externa? É possível pensarmos em exportação?

No setor em que sou especialista o nível de maturidade é 10, inclusive temos mão de obra ociosa porque precisamos de demanda.
Temos capacidade de atender, mas não temos ainda competitividade para concorrer com os elétricos ofertados pelos asiáticos.
Além do custo Brasil ser elevado, não temos tecnologia para produção do componente com maior valor agregado ao custo do ônibus elétrico que é a bateria de lítio. Para que os nossos produtos tenham capacidade de competir com o mercado asiático, o bloco econômico da América Latina teria que criar medidas de protecionismo.

Como você avalia o cenário de políticas públicas de indução ao fortalecimento da cadeia produtiva de ônibus elétricos no Brasil? A Caio tem colaborado com outras empresas e/ou governo para promover a eletrificação do transporte coletivo?

Estamos em processo de implantação dessa nova tecnologia e há muitos desafios, como: Conscientização, infraestrutura, qualificação profissional, regulamentação.
É responsabilidade de todos os atores desse ecossistema fortalecer e oferecer apoio de forma colaborativa para termos uma transição mais suave.
Existem políticas públicas, entendo que é papel dos gestores públicos, informar aos operadores sobre qual é o seu papel, enquanto prestador de serviço público e as diretrizes para conscientização sobre a responsabilidade social, ambiental que agregam ao assumir um contrato de concessão com o poder público (sociedade).
Nesse contexto apoiar o desenvolvimento de projetos para transição de tecnologia é importante.
A realidade da operação dos ônibus elétricos não é usual para os operadores, traz novos modelos de negócios e incremento de novas tecnologias. Nesse sentido abre mercado para contratação de profissionais mais qualificados com remuneração adequada, o que, na minha opinião, reflete em desenvolvimento social, que é o que se espera quando falamos em mudança de tecnologia e inovação.
Por fim, precisamos fortalecer a indústria de elétricos com apoio do governo, seja federal ou estadual, no intuito de conscientizar e em 2º momento impor metas aos prestadores. O serviço de transporte de qualidade é um “direito do cidadão e um dever do Estado “. Portanto, precisa ter qualidade porque quem paga por isso é a sociedade.
A Caio como integradora final da cadeia produtiva, assumiu o protagonismo interagindo com o ecossistema. E, para fortalecer a cadeia, fornece a solução completa à Prefeitura e ao operador.

Em termos de infraestrutura de recarga, quais você apontaria como principais desafios no contexto dos ônibus?

Em termos de infraestrutura de carregamento o maior desafio é a instalação de redes de média e alta tensão nas garagens. Isso, requer investimento em infraestrutura elétrica e equipamentos.
E para otimizar a recarga as estações precisam estar instaladas em locais estratégicos, que sejam acessíveis e otimizem o tempo de recarga. No contexto atual a maior parte das garagens estão instaladas em locais periféricos, sem rede elétrica de média e alta tensão e incapacitada para suportar a demanda adicional dos ônibus elétricos.
Outro fator é a falta de padronização tecnológica, devido a diversidade de tecnologias de carregamento e a interoperabilidade entre diferentes modelos de ônibus.
É crucial a adoção de políticas públicas com planejamento, clareza, e que incentivem a operação de ônibus Elétricos com foco, direcionamento e metas.